A criança em mim.

Se naquele tempo eu só queria crescer, agora que cresci só quero ser criança. É, eu sei, é bem como falam: aproveita enquanto ainda é criança, porque depois vai sentir falta. Ah, e como eu sinto, naquele tempo eu não tinha preguiça de acordar as 07:00 horas pra assistir desenhos, eu não precisava me preocupar com nada, pois havia quem se preocupa-se por mim.

Eu era desordeira, e sempre que aprontava fazia carinha de ''não fui eu mãe''. Hoje em dia isso já não funciona mais. Era tão bom passar as tardes andando de bicicleta pelo bairro. Eu adorava os dias de sol, brincava de boneca, desenhava, dançava até cair, e tinha uma facilidade em fazer amigos. 

Crescer é dar prioridade as coisas serias, é estudar ao invés de andar de bicicleta, é arrumar um emprego ao invés de ficar assistindo desenhos, é ajudar nas despesas de casa ao invés de brincar de boneca. Crescer é embarcar em uma viajem para um novo mundo sem saber quando, ou se, poderemos um dia voltar. Mas é claro, crescer tem seu lado bom, como, andar no banco da frente no carro, não precisar atravessar a rua de mãos dadas com a mamãe, usar caneta ao invés de lápis para escrever na escola, e mais um monte de outras coisas que por mais que sejam boas, ainda assim vão nos fazer sentir falta daquele época tão inocente. 

Moço, me vê dois reais de amor...

Por favor me traz o pote de amor, porque eu quero adoçar a minha vida - Disse Ana para o garçom que fez uma cara de ''quem deixou essa maluca escapar do manicômio?'' 

- O que a senhora disse?

- Senhora nada, eu não sou casada, me chama de tu, Ana, dona, moça, menininha, ou até maluca, porque eu sei que é disso que você quer me chamar. 

- Desculpa, o que a moça deseja? 

- Já disse, um pote de amor.

- Mas, como assim um pote de amor? 

- Amor, aquele sentimento bom que chega d'uma hora pra outra, e te vira do avesso. 

- Minha senhora, quero dizer, moça nós não temos isso aqui - Disse o garçom o mais educado que pode. 

- É, eu já percebi, fui a quatro restaurantes antes desse, e nenhum também tinha, parece que o amor esta em falta. 

- Bem, já que nós não temos amor deseja uma xícara de chá? - Ofereceu o garçom, todo sorridente achando que já havia resolvido o problema de Ana. 

- Chá? E por acaso esse seu chá vai trazer quem eu amo de volta? - Retrucou Ana. 

- Me desculpe menina, mas já chega dessa bobagem, e restaurante esta cheio, há outras mesas que eu preciso atender, e se você quer que tragam seu amor de volta vá há uma mãe de santo - Disse o garçom, com uma expressão de irritação e voz alterada. 

- Você diz que o restaurante esta cheio, mas a verdade é que o restaurante esta cheio de pessoas vazias, e o senhor é só mais uma delas, então com licença, porque eu vou procurar o amor em outro lugar. - Disse Ana, ofendida pelo garçom. 

- Então boa sorte, porque como a senhorita mesma disse: o amor esta em falta. 

Antes eu do que eu.

Tem dias que parece que alguém jogou meus sentimentos em um liquidificador e depois os despejou em mim, fica tudo meio confuso, mais que o normal. É nesses dias que eu mando a dona Carmem e o seu Poodle francês irem pra puta que os pariu. Ligo o rádio no volume máximo em qualquer estação só pra não ter que escutar meus pensamentos. É nesses dias que eu escrevo cartas de amor que eu nunca entrego, e fico dando uma de filosofa na frente do espelho. Ou então eu dou risada da minha cara amarrada e discuto comigo mesma, e ainda me mando calar a boca. É nesses dias que eu sou um posso de carência e não suporto ouvir a voz de outro ser humano. É uma TPM diária que eu cansei de aturar, sinceramente? Eu sou um porre! Sempre com a cara virada pra todos e rindo pra parede. 

Sempre tão instável. Eu me sinto uma canção composta por Cazuza, e Renato Russo. Sempre tão mergulhada na loucura e na tristeza, uma montanha russa que só tem altos. Sempre com a cabeça nos amores passados, e naquele adeus que não foi dado. Uma melancolia danada, e também pura nostalgia. Mas mesmo assim eu me suporto e vou indo, ou então vindo, eu nunca sei bem, mas tanto faz, qual seria a graça de saber tudo, não é? 

Algo dentro de mim

Uma distancia que sempre existiu, mas só agora eu descobri que ela existia. Que me atrapalha. É difícil esquecer um rosto que nunca vimos, um cheiro que nunca sentimos, um abraço que nunca nos reconfortou. É difícil acreditar que esse sentimento nasceu em mim sem nem ao menos você estar aqui. Também é difícil acreditar que eu sofri com a partida de quem jamais chegou. E essa vai ser mais uma noite em que vou dormir com você na cabeça.

Respirar.

Agora não vejo seu nome nas minhas ligações recentes, você não esta parado na porta do meu quarto, não você não vai vir me buscar, poxa vida você não esta mais aqui. E então deixe eu lhe contar um segredo meu amor, desde então tenho conseguido respirar.

Falta de mim

Vivi por tanto tempo afastada de tudo, afastada do mundo, e principalmente afastada de mim, mantive uma distância razoável de tudo que poderia ocasionar, perda, dor ou algum e qualquer sentimento enfim. Logo eu, rainha do drama, viciada em uma boa dose de amor, fã numero um de novela mexicana. Então é quando tu para, e começa a te perguntar de quem é aquela imagem destorcida refletindo no espelho, é exatamente nesse momento que a gente corre, grita, se desespera, liga para meio mundo, olha fotos e chora, e só depois de tudo isso tu percebe que basta um empurrãozinho para tudo voltar ao seu lugar, basta tu conseguir te sentir, basta tu conseguir acreditar de novo, basta ser você mesmo

Assim meio sem vida.

Talvez você não sinta falta daquilo que nunca teve, ou talvez você finja muito bem não sentir. Porque com certeza quando te perguntaram ''em que esta pensando'' queria dizer ''ele''. E por ironia, quanto mais você pensa mais você quer, e não pode ter. D-i-s-t-a-n-c-i-a, antes de tudo, antes de você essa palavra não me causava medo ou estranheza, agora esse vazio em mim foi causado por você que parece não se importar muito. Mas como se importaria se você nem esta aqui, você está longe, muito longe. E é isso que me deixa assim tão... Sem vida.